Criar uma Loja Virtual Grátis
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Google-Translate-Portuguese to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

Rating: 2.7/5 (1090 votos)


ONLINE
1


Partilhe esta Página



 


 

free counters

JOGOS

http://www.papajogos.com.br/jogos-de-tiro/The_Sniper_2985.html


ALBERTO CAIERO (POESIAS)
ALBERTO CAIERO (POESIAS)

Alberto Caeiro admira a Natureza e busca atingir a mesma impassibilidade dos elementos naturais. Para este heterônimo o mundo não encerra mistérios: Deus, metafísica, “sentido último das coisas”, nada disso importa, as coisas são apenas as coisas. E é esta realidade pura, sem símbolos de qualquer espécie, que constitui o alvo de sua criação poética.

 

Eu Nunca Guardei Rebanhos (fragmento)

 
Eu nunca guardei rebanhos, 
Mas é como se os guardasse. 
Minha alma é como um pastor, 
Conhece o vento e o sol 
E anda pela mão das Estações  
A seguir e a olhar. 
Toda a paz da Natureza sem gente  
Vem sentar-se a meu lado. 
Mas eu fico triste como um pôr de sol  
Para a nossa imaginação, 
Quando esfria no fundo da planície  
E se sente a noite entrada 
Como uma borboleta pela janela. 

Mas a minha tristeza é sossego 
Porque é natural e justa 
E é o que deve estar na alma 
Quando já pensa que existe 
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso. 

Como um ruído de chocalhos 
Para além da curva da estrada, 
Os meus pensamentos são contentes. 
Só tenho pena de saber que eles são contentes, 
Porque, se o não soubesse, 
Em vez de serem contentes e tristes,  
Seriam alegres e contentes. 

Pensar incomoda como andar à chuva 
Quando o vento cresce e parece que chove mais. 

Não tenho ambições nem desejos  
Ser poeta não é uma ambição minha  
É a minha maneira de estar sozinho. 

E se desejo às vezes 
Por imaginar, ser cordeirinho  
(Ou ser o rebanho todo 
Para andar espalhado por toda a encosta 
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo), 

É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol, 
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz 
E corre um silêncio pela erva fora. 

Quando me sento a escrever versos 
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos, 
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento, 
Sinto um cajado nas mãos 
E vejo um recorte de mim 
No cimo dum outeiro, 
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias, 
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho, 
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz 
E quer fingir que compreende. 

Saúdo todos os que me lerem, 
Tirando-lhes o chapéu largo 
Quando me vêem à minha porta 
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro. 
Saúdo-os e desejo-lhes sol, 
E chuva, quando a chuva é precisa, 
E que as suas casas tenham 
Ao pé duma janela aberta 
Uma cadeira predileta 
Onde se sentem, lendo os meus versos. 
E ao lerem os meus versos pensem 
Que sou qualquer cousa natural — 
Por exemplo, a árvore antiga 
À sombra da qual quando crianças 
Se sentavam com um baque, cansados de brincar, 
E limpavam o suor da testa quente 
Com a manga do bibe riscado.

 

 

POEMA V de O Guardador de Rebanhos:



Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério. [...]
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
“Constituição íntima das cousas”…
“Sentido íntimo do Universo”…
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada. [...]
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.

 

 

 Poema VI de O Guardador de Rebanhos:

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou…
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!…

 

O Meu Olhar
 
     O meu olhar é nítido como um girassol.
     Tenho o costume de andar pelas estradas
     Olhando para a direita e para a esquerda,
     E de, vez em quando olhando para trás...
     E o que vejo a cada momento
     É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
     E eu sei dar por isso muito bem...
     Sei ter o pasmo essencial
     Que tem uma criança se, ao nascer,
     Reparasse que nascera deveras...
     Sinto-me nascido a cada momento
     Para a eterna novidade do Mundo...

     Creio no mundo como num malmequer,
     Porque o vejo.  Mas não penso nele
     Porque pensar é não compreender ...

     O Mundo não se fez para pensarmos nele
     (Pensar é estar doente dos olhos)                  
     Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

     Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
     Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
     Mas porque a amo, e amo-a por isso,
     Porque quem ama nunca sabe o que ama
     Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
     Amar é a eterna inocência,
     E a única inocência não pensar...

 

Não me Importo com as Rimas

 
 
     Não me importo com as rimas.  Raras vezes
     Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
     Penso e escrevo como as flores têm cor
     Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me 
     Porque me falta a simplicidade divina
     De ser todo só o meu exterior 

     Olho e comovo-me,
     Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado, 
     E a minha poesia é natural corno o levantar-se vento...

 

 

O Mistério das Cousas
 
 
   O mistério das cousas, onde está ele?
   Onde está ele que não aparece
   Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
   Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
   E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
   Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
   Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

   Porque o único sentido oculto das cousas 
   É elas não terem sentido oculto nenhum, 
   É mais estranho do que todas as estranhezas 
   E do que os sonhos de todos os poetas
   E os pensamentos de todos os filósofos,
   Que as cousas sejam realmente o que parecem ser 
   E não haja nada que compreender.

   Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
   As cousas não têm significação: têm existência.
   As cousas são o único sentido oculto das cousas.

 

Há Poetas que são Artistas  

 

     E há poetas que são artistas
     E trabalham nos seus versos
     Como um carpinteiro nas tábuas!...

     Que triste não saber florir!
     Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
     E ver se está bem, e tirar se não está!...
     Quando a única casa artística é a Terra toda
     Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.

     Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
     E olho para as flores e sorrio...
     Não sei se elas me compreendem
     Nem sei eu as compreendo a elas,
     Mas sei que a verdade está nelas e em mim
     E na nossa comum divindade
     De nos deixarmos ir e viver pela Terra
     E levar ao solo pelas Estações contentes
     E deixar que o vento cante para adormecermos
     E não termos sonhos no nosso sono.

 

O Luar

 
 
     O luar quando bate na relva
     Não sei que cousa me lembra...
     Lembra-me a voz da criada velha
     Contando-me contos de fadas.
     E de como Nossa Senhora vestida de mendiga
     Andava à noite nas estradas
     Socorrendo as crianças maltratadas ...

     Se eu já não posso crer que isso é verdade,
     Para que bate o luar na relva?



Acordo de Noite
 
 
    Acordo de noite subitamente,
    E o meu relógio ocupa a noite toda.
    Não sinto a Natureza lá fora.
    O meu quarto é uma cousa escura com paredes vagamente brancas.
    Lá fora há um sossego como se nada existisse.
    Só o relógio prossegue o seu ruído.
    E esta pequena cousa de engrenagens que está em cima da minha mesa
    Abafa toda a existência da terra e do céu...
    Quase que me perco a pensar o que isto significa,
    Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
    Porque a única cousa que o meu relógio simboliza ou significa
    Enchendo com a sua pequenez a noite enorme
    É a curiosa sensação de encher a noite enorme
    Com a sua pequenez...